blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

domingo, agosto 31, 2003

O Américo de Sousa pensou em mim enquanto eu pensava nele. São estas coisas estranhas da blogosfera que atrapalham pessoas racionais e que valorizam a lucidez acima de muitas coisas. Citar uma frasezita minha logo a seguir a citar o Mestre de todos os Mestres, o Ludwig, o Melhor de Todos, é para mim uma honra e um sinal de generosidade tão grande que tudo o que diga mais agora me parece estúpido. Recebo o elogio com uma vénia e retiro-me de cena hoje, durante o resto do dia.
Tenho seguido com muita atenção os escritos do Retórica e Persuasão, um blogue muito cuidado, com um excelente tom e, como se não bastasse, útil e informativo.

Gostaria de fazer três perguntas ao Américo de Sousa:

1. a ambiguidade é um erro?
2. Se seguirmos todos os passos na escrita, por exemplo, de um encómio, podemos ter uma garantia de que os nossos leitores serão convencidos?
3. Será a Retórica uma espécie de tentativa de normalização do discurso?

Sim. Foi a cereja Wittgenstein que o Américo colocou no seu blogue que me levou a escrever este post. Que bom exemplo de eloquência! Lembrei-me de mais dois excelentes exemplos de eloquência que li recentemente em Wittgenstein's Poker. Confrontado com as preocupações interpretativas de Rudolf Carnap, o filósofo austríaco terá dito: "Se não lhe cheira, não o posso ajudar. Ele simplesmente não tem nariz." Mas a ruptura terá chegado com Wittgenstein a acusar Carnap de plágio e com a frase demolidora: "Não me importo que um rapaz roube as minhas maçãs, mas importo-me que ele afirme que lhas dei." E assim se constrói a autoridade.

sábado, agosto 30, 2003

Acordar cedíssimo a um sábado de manhã pode garantir umas boas horas de pasmaceira a ver a MTV ou a saltar de canal em canal, em busca de um programa que proporcione diversão. Hoje, graças à SIC Mulher, assisti a uma repetição do programa Encontro Marcado, em que Simone de Oliveira entrevistou Rita Ferro.

Começa Simone sem piedade: "No És Meu, há um problema de ciúme; há um problema de posse; há um problema de morte."

O meu comentário: e há um problema de semântica; há um problema de sintaxe; há um problema de falta de talento.

Ao mesmo tempo que a Rita Ferro fala sobre as coisas mais espantosas - do género "tenho uma parte negra dentro de mim", e "já tive a fase Lobo Antunes, que passou e já tive uma fase Torga, que também já passou" -, passa no rodapé uma pergunta a que urge responder: "ler: obrigação ou prazer?" Esperei, esperei... Não é que ficou sem resposta?

E o golpe de misericórdia é dado a meio da conversa.
Simone: "Quem é a Rita Ferro?"
Rita Ferro: "Boa pergunta."

Deixo aqui para bons momentos de galhofeira algumas frases da Simone e da Rita.

"Acho que o John le Carré é muito masculino e que a Lídia Jorge é muito feminina." (Rita Ferro)

"Acho que somos fortíssimas." (Simone de Oliveira. Rita Ferro a concordar com entusiasmo.)

"Sou diferente por dentro e por fora." (Rita Ferro. Simone chateada por não se ter lembrado desta primeiro.)

"Estou cheia de projectos." (Rita Ferro)

E após uma hora bem passada...
Simone: "O que é que a preocupa mais?"
Rita Ferro: "Logo a seguir à fome, logo, logo a seguir, a pior desgraça de todas é a sobre-informação, que faz pessimamente às pessoas, sobretudo à hora das refeições."
Às muitas pessoas que levaram a sério a minha frase acerca de uma eventual ida à Costa Rica, peço desculpas por descaradamente ter mentido. Achei que podia ser divertida a imagem de "ser apanhada" por uma pergunta de um blogueador e ter de pousar as malas já feitas para investigar, analisar e responder. Digamos que ficcionei a coisa e o resultado foi uma série de e-mails a desejar boa viagem. Obrigada por acreditarem sempre em mim.

sexta-feira, agosto 29, 2003

Há coisas que me comovem. Uma é o nascer do sol, a outra, um blogue que escreve correctamente a abreviatura da palavra senhora (Sr.ª). E sim, estou a falar-vos d' A Tasca da Cultura . O autor tem um gato de seu nome Jeremias (esse nome de Presidente do Conselho de Administração só pode ser de um gato rafeiroso. Trata-se de perceber que no mundo existe a chamada lei da compensação...); gosta da bela da bonecada inocente, de preferência com algum movimento; é poeta nas horas livres e graças aos Céus não faz disso profissão; já deu uma entrevista à Maria Elisa e fala sobre a arte e o artista com a distância de quem percebe daquilo com que goza. Bem-vindo à blogosfera!

quinta-feira, agosto 28, 2003

Anda uma pessoa a preparar-se para um belo blogus interruptus e é surpreendida por uma mensagem do Avatares do Desejo: "Senhora Dra. Bomba, etimóloga e karaokista [olha, como é que o gaiato sabe?], gostaria de saber qual a origem das palavras rezar, orar e rogar. Um seu criado, Bruno." Diacho do blogueador que me apanhou mesmo já de malas feitas de partida para a Costa Rica. Assim, não tenho outro remédio senão o de prolongar a vida do bomba.

Trata-se de três vocábulos de origem latina. Rezar vem do latino recitare, que significa "fazer a chamada das pessoas citadas a comparecer em tribunal" (re- + citar: citar mais uma vez), ou ainda "ler em voz alta". O verbo orar é o latino orare sem tirar nem pôr. E o significado é o de "pronunciar uma fórmula religiosa, fazer uma súplica, implorar". O que nos leva à palavra rogar ou rogare, que em latim tem o sentido de fazer uma pergunta (e que vemos claramente no português interrogar). E pronto.

quarta-feira, agosto 27, 2003

Porque o passatempo de Verão ainda não acabou, dedico estes versos da canção Stop das míticas Spice Girls ao querido Pedro Lomba.

Stop right now
Thank you very much
I need somebody with a human touch
Hey you
Always on the run
Gotta slow it down baby
Gotta have some fun

Bons pensamentos, boas leituras e boas escritas!

terça-feira, agosto 26, 2003

Na consulta da Academia

- Professor, não durmo há duas semanas.
- Mas porquê?
- Porque não tenho sono.
- Mas tem alguma coisa a ver com as leituras que lhe receitei?
- Sim, a minha cabeça não pára e duvido de tudo o que digo. E do que escrevo então...
- Óptimo. Vamos fazer uma pausa nessas leituras anfetamínicas.
- Mas estou a gost...
- Ora bem. Nada como uma bela tragédia para limpar essa cabeça. Começamos com a Oresteia.
- Quando li o Agamémnon tive um soninho descansado.
- Pois agora leia as Coéforas e as Euménides e quero vê-la outra vez no dia 10 de Setembro.
- E se continuar a ter insónias?
- Um comprimido inteiro de Lendormin, 30 minutos antes de deitar, durante uma semana.
Estive até agora a pensar (e são já muitas horas passadas nisto) na frase que escrevi aí em baixo: "Este é um exemplo do que gosto: de coisas que duram quase para sempre". Não. Do que gosto é das coisas que duram para sempre. Ou seja, do que gosto é das coisas que não existem, porque nada dura para sempre. Mas se não existem, não posso gostar delas.

O facto de o diário ter páginas suficientes para cinco anos de escrita agrada-me. Mas cinco anos não é para sempre. E se for, é algo que só saberei a posteriori, ou seja, depois da morte; ou melhor, é algo que nunca saberei. Saber que o diário dura cinco anos (que é muito tempo para um diário) leva-me a mentir.

Tudo isto para dizer aquela frase é falsa, mas percebe-se o que quero dizer. E com estes disparates vivemos alegremente.

segunda-feira, agosto 25, 2003

Hoje, pela fresca, verifiquei que na caixa de correio estava o novo catálogo da Smythson. Li-o com carinho e atenção, a sonhar com o papel de peso-pluma, capas de pele de cabra em cores improváveis (verde-água, por exemplo). Neste catálogo da colecção Outono-Inverno, que não está disponível online, comovo-me com o diário de cinco anos desta marca de luxo irrepreensível. Este é um exemplo do que gosto: de coisas que duram quase para sempre.
Estou maravilhada! O Alberto Gonçalves é um homem completo. Como, aliás, um homem a dias tem de ser: talentoso, com um sentido de humor incisivo e elegante, génio informático e, ainda por cima, detentor de um exemplar da magnífica edição de capa azul da Gulbenkian do Tratado do Ludwig. Quero agradecer-lhe a ajuda preciosa na sofisticada operação de aumento do tamanho da letrita dos links da minha lista de blogues.

domingo, agosto 24, 2003

Por agora, o bomba de ouro vai paaara: Filosofia e Bolachas!

Limitando-me ao panorama mainstream da actualidade:

"Feel good, feel good / it's the same old game / feel good, feel good / don't got no more brain"- Feel Good
Time, Pink.

"Sou inconsciente / como a gravidez adolescente"- Não Percebes, Sam The Kid.

"Shortie, it's your birthday / we gon' party like it's your birthday / we gon' drink barcadi like it's your birthday / and we don't give a fuck it's not your birthday"- In Da Club, 50 Cent.

"Uh-oh, uh-oh, uh-oh / uh-oh, uh-oh, uh-oh" - Never Leave You, Lumidee.

"Whatever floats your boat / or finds your lost remote" - The Whole World, Outkast.

"Go downtown / and eat it like a vulture"- Work It, Missy Elliot (de facto, eu diria que qualquer parte desta canção serviria para pôr aqui... a Missy Elliot realmente é uma das letristas mais brilhantes da actualidade, e não estou a ser irónico).

"Mister you're on fire mister! / no sir, I'm ok!" - Mr. You're On Fire Mr., The Liars.

"Y'all cats were just too blind to listen" - Multiply, Xzibit.

"Rah rah like a dungeon dragon"- Pass The Courvosier, Pt.2, Busta Rhymes.
Leio o Abrupto todos os dias, como se fosse uma espécie de Pai-Nosso, ao qual não resisto, a que não posso escapar. Isto por uma razão muito simples: o Abrupto tem muita qualidade. Gosto dos textos (e só o maradona sabe como me custa ler textos com erros e gralhas), gosto das imagens, gosto muito do gosto que o Pacheco Pereira tem no seu blogue, no orgulho absolutamente compreensível que tem no que faz.

O Abrupto, em tempos, acusou os blogues da UBL de fazerem comentários carloscastrianos acerca do jantar que se realizou. As respostas seguiram-se (e foram muitas). Até aqui tudo normal. O único problema é que o próprio Abrupto farta-se de os fazer. Passo a explicar. O Carlos Castro é um avaro de referências. É o rapaz que faz comentários do género "aquela de Cascais que levou o vestido e não pagou e que toda a gente sabe quem é mas agora não digo". O que se passa é que o CC é um cobarde, porque fala das pessoas sem as mencionar. Nada disso aconteceu nos comentários do jantar da UBL, mas acontece frequentemente no Abrupto.

Exemplo disto que digo é o mais recente texto intitulado "Early Morning Blogs 32", que transcrevo.

Os geógrafos têm um conceito para estudar a parte “humana” da sua disciplina – os “lugares centrais”. Na nossa blogosfera também há “lugares centrais”: um é o Magnólia, outro a FNAC do Chiado. Do Magnólia nada posso dizer porque não conheço. Quanto à FNAC do Chiado intriga-me que nunca haja referências à FNAC do Colombo. Estranho, até porque a FNAC do Colombo é muito melhor do que a do Chiado… Porquê? Será que moram todos no Chiado? Os nossos autores de blogues não entram em centros comerciais? Só vão directamente para as livrarias?

Bom, como referi ontem uma conversa que tive na Fnac do Chiado, a carapuça Prada serve-me perfeitamente. Também deve servir ao Pedro Lomba e ao Pedro Mexia e, provavelmente, a mais uma série de blogueadores que escreveram alguma vez sobre a Fnac do Chiado. Mas toca a responder às perguntas que o post já vai longo!

1. A secção de textos da Antiguidade Clássica da Fnac do Colombo é muitíssimo mais fraca do que a do Chiado;
2. não moro no Chiado, mas moro no Rato (não lhe posso dizer a morada por razões óbvias);
3. o único centro comercial a que vou é ao das Amoreiras, porque é muito perto da minha casa;
4. não existe uma relação directa entre centros comerciais e livrarias.

E pronto. Deixe lá, ó Abrupto. Também gosto de si.
Do blogue A Origem do Amor chega pela fresca uma sugestão de versos engraçados em músicas que não interessam fixar.

Um dos maiores êxitos do Verão passado foi As Meninas da Ribeira do Sado. O meu contributo para este vasto reino da pop single alentejana, é uma música que aprendi quando pequeno, em Vila Verde de Ficalho, terra de mê pai, que embora não seja conhecida do grande público merecia figurar no Top Ten Português. Segundo o meu já falecido Ti Chico, a cantoria rezava assim:

(cantar com sotaque alentejano e repetir sempre cada frase uma vez)
Olha a gata, olha a gata, que me foi à salgadeira,
Comeu o toucinho todo que estava na frigideira.
Que estava na frigideira, que estava pra mim guardado,
Lá vai ela, lá vai ela, com o rabo apendurado.
Com o rabo apendurado, com o rabo à rés-do-chão,
Lá vai ela, lá vai ela, olha a gata dum cabrão.


É incrível o que se pode fazer com três ou quatro palavritas...

sábado, agosto 23, 2003

Na Fnac do Chiado

- Tem o Tratado Lógico-Filosófico?
- Só uma tradução em francês.
- Não tem aquela edição de capa azul da Gulbenkian?
- Está esgotada.
- Ah, então é bom sinal!
- Está esgotada há dez anos.
- Então é péssimo sinal!

sexta-feira, agosto 22, 2003

A blogosfera está pejada de escritos sobre a bombazona Beyoncé Dressed-In-Versace-And-Linkin'-That-Thumb Knowles e o seu novo vídeo Crazy in Love. Apresento-vos os versos de que mais gosto: "Uh oh, uh oh, uh oh, oh no no / Uh oh, uh oh, uh oh, oh no no / Uh oh, uh oh, uh oh, oh no no / Uh oh, uh oh, uh oh, oh no no".
Continuam a chegar tipo à velocidade da loucura sugestões de versos divertidos de canções patetinhas.

Desta vez é o Socio[B]logue que me escreve: "Envio-lhe alguns versos improváveis para a sua colecção: "He was a boy / She was a girl / Can i make it any more obvious?", Sk8ter Boy, Avril Lavigne

"Uh Huh Life's like this / Uh Huh Uh Huh That's the way it is / Cause life's like this / Uh Huh Uh Huh That's the way it is", Complicated, Avril Lavigne

"(I'm gonna getcha) / I'm gonna getcha while I gotcha in sight / (I'm gonna getcha) / I'm gonna getcha if it takes all night / (Yeah, you can betcha) / You can betcha by the time I say "go," / you'll never say "no" / (I'm gonna getcha)/ I'm gonna getcha, it's a matter of fact / (I'm gonna getcha) / I'm gonna getcha, don'tcha worry 'bout that / (Yeah, you can betcha) / You can bet your bottom dollar / in time you're gonna be mine / Just like I should - I'll getcha good", I'm Gonna Getcha Good!, Shania Twain

Tanto Avril Lavigne como Shania Twain são de origem canadiana. Can I make it any more obvious?"

O comentário faz-me lembrar uma canção que adoro, da banda sonora do filme Southpark: Bigger, Longer & Uncut, intitulada Blame Canada: "Blame Canada / Blame Canada / It's not even a country anyway". Esteve candidata a um Óscar. Não ganhou.
Chegam à caixa de correio do bomba mais sugestões de versos divertidos de canções de chacha.

O blogue 3 Tesas Não Pagam Dívidas escreve um post sobre o tema e cita a namorada Shakira e mais uns versos da Britneyzinha (essa mulher é uma mina aqui para o passatempo). Deixo-vos os versos da Britney: "I know I may be young, but I've got feelings too / And I need to do what I feel like doing (...) What's practical is logical. What the hell, who cares?", de I´m a slave 4 u e ainda o clássico "Oops!...I did it again / I played with your heart, got lost in the game". O Oops.. I did it again devia ser trauteado em todas as faculdades do País! I know I do it...

Do Posso Ouvir Um Disco chega um rap luso do já mítico Boss AC, cujo vocábulo "baza" resume um estado de espírito muito popular entre a camada adolescente. Fica o refrão: "Baza, baza / Vai p'ra casa / Abre a pestana, tana / Isto aki não é um filme, boy".

Afinal não resisto e transcrevo mais uma parte deste hino. Ainda dizem que os meninos não aprendem inglês: "Sou mesmo assim, what you see is what you get / Se não entendes a mensagem rewind, repete / Presta atenção ao qu'eu digo digo no mic e reflecte / A minha música é um boquete, where my niggas at? Podes crer vou esquecer hoje não quero saber / Se não paro de pensar vou enlouquecer / akela merda pode tocar mas não vou atender / Vou pôr o som a rappar o mais alto que puder / mulho que souber nas lojas disponivel para quem quiser / Put your hands in the air and bounce to this".
Cenas da vida conjugal

- Querido, porque é que não há notícias de pedófilos?
- Porque as fontes foram todas de férias.

quinta-feira, agosto 21, 2003

Começam a chegar as sugestões de versos divertidos de canções de chacha. Parece-me mesmo que se trata de um tema ilimitado. Muito mais do que a Antiguidade Clássica.

Do 7000 Nomes, chegam alguns versos dessa canção que tantas alegrias deu à juventude lusa - e porque não ibérica -, Whenever/Wherever da diva colombiana, namorada do filho do ex-Presidente da Argentina De la Rúa (um inútil, segundo diz o meu marido) Shakira: "Lucky that my lips not only mumble, they spill kisses like a fountain, lucky that my breasts are small and humble, so you don't confuse them with mountains".

O 7000 Nomes envia-me também a letra mais divertida de sempre (gozo ao Rapper's Delight, dos Sugarhill Gang, que sei de cor, mind you... sim, a letra toda) das três grandes queridas que destruíram o conceito de girls band, as filhas do Tomate (feias que só visto), Las Ketchup: "asereje, ja deje tejebe tude jebere seiunouba majabi an de bugui an de buididibi". Em tempos fiz uma versão desta música para ilustrar a entrada dos Abraham no Iraque. Repesco-a agora dos arquivos do bomba.

Canção Asereje versão guerra

Abuabu abu dabi saddam saddam saddam saddamshalabi kirkuk a carlos fino a tiktik titi
saddam saddam iraqueiraque bagdade damasco e síriri ri ri e a síria e tikri cricri
e uma kalashnikov de ouro de ouro e quero e quero e quero la la la la e tik tiki kiki...
O Abrupto, ao criticar há uns dias um programa norte-americano que "ousa" misturar Proust com Britney Spears, deu-me uma ideia divertida, porque do que gosto mesmo é das grandes misturas que dão sentido a esta coisa a que chamamos a nossa vida.

Proponho um passatempo de Verão. As letras das canções pop são habitualmente repetitivas e pouco interessantes. Gostava de fazer aqui no bomba uma recolha de alguns versos engraçados dessas músicas. Deixo aqui alguns exemplos de versos divertidos de canções de chacha.

- "Say hello to the girl that I am", Overprotected, Britney Spears
- "I love you for free and I'm not your mother", Objection (Tango), Shakira
- "LA told me, 'You'll be a pop star, all you have to change is everything you are'", Don't Let Me Get Me, Pink

Conhecem mais?

quarta-feira, agosto 20, 2003

Sempre que leio o meu nome no Socio[B]logue ponho-me em sentido. Pareço uma miúda toda esticada já com a mão na caixa das bolachas, que está na última prateleira do armário; a tampa quase a cair e a outra mão apoiada no armário. De repente, ouço o meu nome. É assim que me sinto.

A maioria das pessoas que me envia e-mails trata-me pelo nome e apelido. Pois. Por bomba inteligente. Os mais formais tratam-me por Dona Bomba (tem a sua piada). Os que já me conhecem tratam-me por Charlotte, Char, Cha, Chazinha etc. Uma grande querida trata-me por Palas Ateneia. Já sabem que me chamo Carla... mas podem tratar-me por Elizabeth que não me importo.
O texto do Abrupto "Bagdad / Jerusalem 2" faz-me pensar que se tivessem mostrado os cadáveres das vítimas do atentado do 11 de Setembro e assim anulado a estetização do acontecimento, talvez isso tivesse provocado alguma emoção e menos racionalização do acto terrorista. Mas agora é tarde.
Como é que se discute o atentado à ONU em Bagdade? Partilho da revolta lida nos textos "O que é a verdade, portanto?" do Aviz e "Iraque", do Abrupto. E entendo muito bem o tom do texto do Contra a Corrente, "O velho e cínico relativismo moral", em cujas entrelinhas leio qualquer coisa como "já cansa andar sempre a explicar o óbvio".

terça-feira, agosto 19, 2003

Ontem recebi um convite do blogue A Carta Roubada para participar num live concert, ou numa sessão de psi ou no que quisesse. Adorei! Obrigada, minha querida, Susi Psi.

segunda-feira, agosto 18, 2003

Leio no Abrupto o seguinte: "(...) foi através de Haroldo de Campos e M. S. Lourenço (nos artigos do Tempo e o Modo) que comecei a entrar dentro de Pound e Joyce. E não era o Joyce do Ulisses mas o do Finnegans Wake. “Entrar dentro” significava interessar-me muito, entusiasmar-me, estudar, tentar repetir (...)". Como político explica (sem explicar) o que quer dizer com "entrar dentro". Ora se "entrou dentro" do Joyce de Finnegans Wake, o que terá feito ao Joyce do Ulysses?
Bem, se para o Mata-Mouros, o melhor blogue desta semana foi o Mar Salgado, a melhor refutação a do Liberdade de Expressão, a melhor lição a do Cataláxia, o melhor humor o do Valete Fratres, o melhor texto o do A Aba de Heisenberg, sinto-me honrada com a distinção de melhor "posta". Não há nada como o contexto para se perceber que o elogio tem valor.
A Rata Maluka estabelece a ancestral dialéctica taoísta do ying e do yang ao recomendar exclusivamente na sua lista de blogues O Meu Pipi e esta vossa humilde servidora. Não acho que seja nem maniqueísmo nem simplismo. Apela à sabedoria de uma cultura milenar, que explica a energia do universo na sua mais pura essência. Sinto-me orgulhosa por representar o ying e estar tão bem acompanhada pelo escolhido yang.

domingo, agosto 17, 2003

Leio no Patarata uma pergunta a que me apetece responder muito sucintamente, porque já sabem que estas coisas da etimologia são para serem levadas com muita descontracção: "Será a origem da palavra negócio, a negação do ócio?" Ah, pois é. Negócio é um vocábulo constituído pelos latinos nec (não) e otium (ócio). À actividade do não-ócio chamamos trabalho. Ora a palavra correspondente em grego ao otium latino é sxolí, cujo significado é, claro, tempo livre. Trata-se de um vocábulo que vemos em palavras como escola, escolástico etc. Parece-me muito acertado que o tempo livre seja associado ao estudo. Já a palavra douleiá (trabalho, em grego) vem de doulos (escravo). Os gregos percebiam disto a potes.

sábado, agosto 16, 2003

Perguntam-me porque nunca respondo aos blogues que falam mal do bomba. Digo que já expliquei: porque esses textos poluem o meu blogue. Mas talvez seja importante desenvolver um bocadinho a ideia. Já vários blogues se manifestaram contra o bomba. Quando o fizeram foi sempre em termos de lamentar, num tom insultuoso, muito baixo. A isso não chamo crítica. Curiosamente, os textos do bomba inteligente raramente são criticados. Já o bomba é alvo de grandes más-criações, insultos e atitudes de paternalismo. Sou bastante violenta na minha vida com as pessoas de quem não gosto. Aqui, refreei essa tendência. Optei pelo silêncio e por ignorar os ressabiados que andam por aí aos caídos. Tentei ser coerente e responder apenas aos casos de gritante falta de ética, que foram dois, se bem se lembram. Não sei o que se passará daqui para a frente. Mas posso aconselhar aqueles que não gostam do bomba a que não o visitem. É muito simples. Mais simples do que mudar de canal de televisão.
No DNa de hoje, na secção bloguices, é mencionado um post do bomba inteligente. Achei bonito, sobretudo porque o texto em questão foi escrito na sequência de uma noite de grande euforia. Obrigada pela referência e oito beijos para a Catarina, a Sónia, o Zé Mário e o Pedro, sendo dois para cada um. Pois claro.
A minha amiga Nani, correspondente do bomba em Pequim, enviou-me um link para o site de uma casa de chá a que fomos quando a visitei. A casa de chá está agora remodelada e continua uma beleza.

sexta-feira, agosto 15, 2003

Os blogues que vivem de citações e da selecção exclusiva de poemas nunca me interessaram muito, porque são demasiado incompreensíveis. Percebe-se pouco de quem os edita, embora a escolha diga já alguma coisa do seu autor. Mas o Táctica e Estratégia é diferente. É diferente porque, na sua simplicidade, cita Joyce, Teixeira de Pascoaes, António Franco Alexandre, Mário Cesariny, W. H. Auden; só coisas que me dizem muitas coisas bonitas e acertadas. Bem-vindo à blogosfera!
Como é que pessoas que não se conhecem, nunca se viram, e que se lêem há uns dois, três anos, podem ter gostos tão semelhantes, referências tão iguais? No início do Pastilhas, essa surpresa veio com o Maradona. Enviei-lhe um e-mail a dizer que tinha de o conhecer, porque ninguém podia acertar tanto. Quem era essa pessoa que dizia aquilo em que eu muitas vezes pensava?

O mesmo se passa com o Macguffin. Há uns dias, ao ver a nova colecção de minissaias giras da Zara, pensei: "Vou escrever um post a dizer 'this Winter I'll be mostly wearing Zara'". A frase é adaptada da série britânica de humor Fast Show, que adoro. Ora o Macguffin antecipou-se e escreveu há dias “This week I will be mostly hearing Monk”. Como é que isto se explica? Tenho de aceitar que muitas coisas não têm explicação nenhuma.

quinta-feira, agosto 14, 2003

O Homem a Dias cometeu a proeza de me fazer corar logo pela manhã. Decidi que é motivo suficiente para tirar o dia.

quarta-feira, agosto 13, 2003

Tenho estado para aqui a pensar numa frase dita pelo Vasco Graça Moura num programa em que contracenava com Eduardo Prado Coelho chamado Duelos Imprevistos, transmitido há uns dias largos pela SIC Notícias. Disse VGM que um espectador confrontado com uma peça de música contemporânea não pode gostar da mesma porque não a percebe e porque para gostar da dita peça (ou seja, para a perceber) teria de ter ouvido antes (percebido e gostado, digo eu) Bach, Mozart etc. Ou seja, para chegar a esse ponto supostamente mais complexo da criação musical teria de ter percorrido um determinado caminho.

Esta frase coloca alguns problemas.

Primeiro: não há garantias. Ninguém me garante que se ler (ou perceber e gostar de) Platão, Kant e Hume perceba Wittgenstein. Porque perceber e gostar (que a meu ver são coisas diferentes, mas isso terá de ficar para outra altura) de Platão não significa perceber e gostar de Wittgenstein; significa tão-somente (ou nem por isso) perceber e gostar de Platão. Não existe um perceber em potência lá porque se tem a chamada “base de conhecimento” (escrevo estas palavras entre aspas sem as perceber e, por acaso, sem gostar delas assim juntas).

Segundo: a ideia do saber em potência é perigosa e incentiva a mediocridade. É perigosa porque mete na cabeça das pessoas a ideia de que podem potencialmente perceber tudo se seguirem os tais passos determinados por quem “já passou por isso”. E incentiva a mediocridade, por outro lado (é um outro lado, embora não o pareça), impossibilita a que se chegue seja onde for no conhecimento porque não se leu isto ou aquilo.

Sou das poucas pessoas que acreditam ser perfeitamente possível perceber o Ulysses sem ler a Odisseia. O próprio Joyce abandonou o esquema de correspondência da estrutura do poema homérico porque se entusiasmou com outras influências e porque Joyce sabia que era mais que Homero. Porque o importante é ler o Ulysses quando se quer ler o Ulysses. Só. O que o leitor do Ulysses perceberá será aquilo que ele próprio é juntamente com o que já leu, os filmes que viu, o que gosta de comer ao pequeno-almoço, as horas a que se deita, os amigos que escolhe. Se ler a Odisseia, verá outras coisas porque é natural que assim seja. Ou não verá nada porque a Odisseia pode, naquele momento, dizer coisas que não lhe interessam para a leitura do Ulysses.

Terceiro: a ideia de que todos podemos ser educados da mesma maneira é no mínimo ingénua (Eduardo Prado Coelho falou durante o programa de uma tal mediatização da cultura, um conceito estranhíssimo para mim, que parece pretender a uma ideia ainda mais bizarra de uma educação dos públicos...). As coisas (a música, a escultura, a pintura, a literatura) dizem-nos coisas diferentes a todos nós. Porque somos todos diferentes a viver em épocas diferentes, a absorvemos coisas diferentes de um modo diferente, a comermos coisas diferentes de maneiras diferentes. Há alturas em que coincidimos. Há alturas em que coincidimos muito durante muito tempo com várias pessoas que elegemos como nossas amigas. Há alturas em que não.

quinta-feira, agosto 07, 2003

O passatempo (uma brincadeira, como bem perceberam) da escolha do futuro nome para o bomba serviu um objectivo: o de responder de forma aparentemente frívola ao artigo sobre blogues do Eduardo Prado Coelho e, sobretudo, à frase “é possível que seja um mero fenómeno de moda e que mais tarde possamos dizer: houve um Verão em que só se falava em blogues, lembram-se?” Ora no bomba faço projectos, planos para prolongar a sua vida na blogosfera. Planos a longo prazo porque são os mais bonitos e os que dão uma certeza de que se chegará lá. Porque chegará uma altura em que perguntaremos aqui: “Lembram-se daquele Verão em que o Eduardo Prado Coelho escreveu sobre os blogues?”
O meu querido amigo Nuno Miguel Guedes sugere tardiamente mas muito a tempo (na blogosfera tudo é possível) o novo nome para o bomba; um nome que me cai que é um miminho.

Querida Charlotte, devido ao teu temperamento e, mais filosoficamente, ao destino que a todos nos espera, tenho o atrevimento de sugerir Bomba-Relógio. É sofisticado, imprevisivel e pode explodir a qualquer momento. E é atemporal.
Um leitor atento aos meus gostos enviou-me a morada para o Clube da Vodka. Muito giro.

quarta-feira, agosto 06, 2003

Sabem que a vodka ucraniana feita de grão de trigo é muito boa?
O quê? Não me digam que são quatro da manhã? Nã...
O Miguel Esteves Cardoso fez-me perceber que ser amigo não impede que se perceba a admiração que se tem pelo amigo que é único.
O Miguel Esteves Cardoso fez-me perceber o que é a autoridade.
E o Miguel Esteves Cardoso é a pessoa mais brilhante que alguma vez conheci.
Quero também dizer que o texto sobre a parresia dos gregos e do Foucault é dedicado ao meu marido, a única pessoa na minha vida que vi dizer a verdade.
Interrompo a noite porque acordo a pensar que um artista é menos do que um filósofo. E um escritor é menos do que um filósofo. E a literatura é menos do que a filosofia. Porque a arte não actua sobre a realidade. Que é o que interessa.

terça-feira, agosto 05, 2003

Apresento agora as últimas sugestões para o futuro nome do bomba. Porque uma mulher precavida vale por uma centena delas.

Diz o Contra a Corrente em estrangeiro: Um outro nome? Too Darn Hot. Mas isso daqui a uns anitos já era, Macguffin! Este grande querido conservador a negar o óbvio. Ai...

Do respeitabilíssimo Mata-Mouros vem a seguinte ideia: Sugestão para um nome daqui a 30 anos: Balzaquiana com Miolos. Daqui a 30 anos serei cinzas, pó e nada! Balzaquiana sou eu agora com 32 anos de idade.

O Reflexos de Azul Eléctrico também me envia a sua sugestão: A ser verdade o que é dito sobre o aumento da idade, e pressupondo que a bomba inteligente será menos Bomba, mas ainda Inteligente, proponho o nome: Inteligência da Bomba. A usar só depois dos 50 a 55 anos. Segundo o que aprendi na escola, a ordem dos factores não altera o produto. Agradeço muito a confiança!

Finalmente, o Liberdade de Expressão sugere: Em vez de A Bomba Inteligente ficava melhor A Mãe de Todas as Bombas. Afinal, os bons genes não devem ser desperdiçados. Ora, este é o tipo de frases que pode acordar o relógio biológico mais adormecido da Terra. E é bonito.
Na busca de um novo nome para o bomba, houve quem desse a sua opinião, coisa que agradeço e que agora partilho com o leitor que não tem mesmo nadinha para fazer.

O desBlogueador de conversa apresenta a sua sugestão: Minha cara, aconselho-lhe personalidade inteligente... Toda a gente sabe que, a partir de determinada idade, as mulheres valem pela sua personalidade. Pronto. No dia em que começar a falar da minha personalidade já sabem: take me away!

Do blogue A Origem do Amor chega o nome que mais temia: A Idade Inteligente. Id... id... É que nem consigo dizer a palavra!

Mas há mais, pois há.
Recebi mais uma catadupa de e-mails com sugestões de nomes para o blogue para daqui a seis anos, altura em que me dedicarei inteiramente à cultura.

O Anton, indignado com a minha ideia, diz: Quero demonstrar o meu descontentamento com essa péssima hipótese de reciclar o nome Bomba Inteligente! Daqui a seis anos continuará óptimo para a vida activa! (...) Com a continuação do sucesso do blog terás de abdicar da tua vida profissional e pessoal para te dedicares exclusivamente à bomba! Será o duro preço da fama! Só nessa altura, dada a tua total dedicação aos leitores, deverás alterar ligeiramente o nome. Sugiro Bomba Inteligente - ONG.

O Cruzes Canhoto também não gostou deste meu delírio feminino: Discordo de o nome do blogue caducar daqui a uns anos. Ora, Charlotte, as mulheres, como as bombas, com o passar dos anos tornam-se ainda mais perigosas! Nunca viste as telenovelas venezuelanas em que as heroínas são jovens parvinhas inócuas e as más da fita, mulheres de meia-idade cheias de truques e artimanhas? Ai, mulheres de meia-idade... Passem-me a caixa de lenços de papel, já!

Mas há mais.

segunda-feira, agosto 04, 2003

Chegaram vários e-mails com sugestões para o novo nome do bomba, daqui a uns seis anos quando me transformar numa velha carcaça. Ai. O melhor é aproveitar enquanto dura.

Do 7000 Nomes vem a sugestão absolutamente irresistivel de dizer e de publicar. E o gajo é meu amigo! Imaginem lá se não fosse...

No DNa de sábado, o Sr. Ministro Bagão Félix confessou que entre outras coisas, se entretem a construir anagramas e corruptelas do seu nome tendo já encontrado 80 akas. Pede-lhe ajuda! Ele menciona por exemplo o "dragão feliz", mas isso não é razão para formas indelicadas como "bimba inteligente", que além do mais não se justifica, mas lá que apetece dizer, isso apetece... e dita a graçola me penitencio de joelho no chão.

O Atípico envia-me também a sua opinião: Pois olhe que para nome do seu futuro blogue, só me lembro do seguinte: bomba+inteligente. Mas, meu caro João, não acha melhor -bomba+inteligente? Melhor porque, se tudo correr como a vida manda, o mais verdadeiro. Buáááááá!

Finalmente, o atento Nuno enviou-me esta ideia genial para o futuro nome: Acontece (agora que acabou pode ser um bom nome).

Mas há mais.
Ao contrário do que dizem os antibloguistas, acredito que a blogosfera terá longa vida. Com desistências pelo caminho é certo, com interrupções, com novos blogues a aparecerem todos os dias e uns a ficarem e outros não. Por mim, fico. Mas tenho um problema. O nome do blogue só poderá ser mantido durante uns cinco ou seis anos, mas não mais. É que a velhice não perdoa e a uma mulher muito menos. Lembrei-me de decadência inteligente. Ai... Se tiverem alguma ideia brilhante e amável, pois façam favor de a escreverem e de ma enviarem.

domingo, agosto 03, 2003

Passear contigo, amar e ser feliz...
O Presidente da República Jorge Sampaio, com a energia e a inteligência que o caracterizam, culpou o calor pelos fogos que lavram o País e aconselhou os Portugueses a saírem imediatamente das zonas afectadas pelos incêndios, quando as autoridades assim o requererem. Ucranianos, Galegos, Romenos e afins podem ficar que isto não é com eles.
Recomendar um livro é como passar uma receita médica. Sem saber de que mal padece o doente é impossível saber que medicamento o poderá curar, ou pelo menos melhorar as suas maleitas. Mas quando intuitivamente (ou não) sabemos o que o outro quer ler, essa receita acertada pode resultar numa grande melhoria de qualidade de vida. Há nove anos, ofereceram-me este livro. E li um poema que me explicou algumas coisas. Senti-me feliz por o ler e ainda me sinto sempre que o faço. Na altura não percebi bem porquê. Hoje em dia, talvez perceba um bocadinho melhor. Deixo-vos a tradução inglesa do poema Ítaca, de Konstandinos Kavafis, da autoria da sua melhor tradutora, Rae Dalven.

ITHACA

When you start on your journey to Ithaca,
then pray that the road is long,
full of adventure, full of knowledge.
Do not fear the Lestrygonians
and the Cyclopes and the angry Poseidon.
You will never meet such as these on your path,
if your thoughts remain lofty, if a fine
emotion touches your body and your spirit.
You will never meet the Lestrygonians,
the Cyclopes and the fierce Poseidon,
if you do not carry them within your soul,
if your soul does not raise them up before you.

Then pray that the road is long.
That the summer mornings are many,
that you will enter ports seen for the first time
with such pleasure, with such joy!
Stop at Phoenician markets,
and purchase fine merchandise,
mother-of-pearl and corals, amber and ebony,
and pleasurable perfumes as you can;
visit hosts of Egyptian cities,
to learn and learn from those who have knowledge.

Always keep Ithaca fixed in your mind.
To arrive there is your ultimate goal.
But do not hurry the voyage at all.
It is better to let it last for long years;
and even to anchor at the isle when you are old,
rich with all that you have gained all the way,
not expecting that Ithaca will offer you riches.

Ithaca has given you the beautiful voyage.
Without her you would have never taken the road.
But she has nothing more to give you.

And if you find her poor, Ithaca has not defrauded you.
With the great wisdom you have gained, with so much experience,
you must surely have understood what Ithacas mean.

Konstandinos Kavafis, 1911
Aquilo de que gosto mais no Aviz é o tom sincero e tranquilo presente em todos os textos. No post intitulado Late Night Blogs leio nas entrelinhas um comentário constante. Algo como: "na blogosfera escrevemos o que nos apetece, para quem nos quiser ler. E então?" Gosto desta despreocupação que faz com que as coisas sejam saboreadas e bem vividas: "Nem sei se é moda, isto dos blogs. Nem me interessa. Dura enquanto durar. (...) Depois acaba, como tudo." Pois é.
Pela brisa mais fresca (30º) da noite, chega uma novidade excelente: o Alberto Gonçalves, cronista indispensável do Correio da Manhã tem um blogue que se chama Homem a Dias. Apenas com um dia de existência podem ler-se frases como esta: "Ao tomar o primeiro café do dia, engasguei-me." Vale a pena ler o resto do post para saber porquê e os restantes textos do dia do nascimento. Uma longuíssima vida é o que desejo ao Homem a Dias, que saúdo com entusiasmo. Bem-vindo à blogosfera!

sábado, agosto 02, 2003

O Reflexos de Azul Eléctrico respondeu a uma pergunta que lhe fiz por e-mail, na sequência do texto intitulado "ler" publicado nesse blogue: a leitura é uma arte? Gostaria imenso de comentar, infelizmente, como o autor bem observou "o calor faz mal aos bloggers". Mas quarenta e dois graus não é calor; é um inferno peganhento que turva qualquer pensamento. Dou por mim a repetir frases e telefonemas durante o dia; a perguntar se 10 de Janeiro de 2007 já passou. O calor não enlouquece ninguém, mas que me põe balhelhas, lá isso põe. Fazer neste momento um texto em que seria imperativo apresentar uma tentativa de definição de arte e discutir razões por que não concordo com a ideia de que a leitura o seja é tarefa complicadíssima. Mais uma boa ideia para Novembro que fica aqui anotada.

sexta-feira, agosto 01, 2003

E como é que a querida Susana sabe que adoro Peter Greenaway? É por estas e por outras que tenho cá um medinho de psicanalistas... brrr... Um enorme beijo de reboas-vindas à blogosfera!
Tenho estado para aqui a pensar neste texto do Pedro Lomba: "Sou meigo e reverencial com a autoridade, quando ela se exercita legitimamente. A legitimidade de exercício é a que mais importa. Os títulos são absolutamente desnecessários." Preciso de comentar mas derreto em frente ao ecrã. Será a questão da autoridade um tema de Inverno? Decido que sim. Fica o post como uma espécie de papelinho amarelo com uma nota: a autoridade não existe se não houver legitimidade no seu exercício. E talvez ainda outra: a autoridade só se exercita em pleno quando a ela está associado o poder, mas não é fundamental. Chega de notas. Novembro é o mês certo para estes tipo de textos.

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